domingo, 15 de fevereiro de 2009

A minha primeira vez




Certa vez o meu pai convidou-me para ir ver um jogo da bola no café. Aceitei de pronto, nem que mais não fosse , para ter possibilidades de ver televisão, modernice que ainda não havia em nossa casa naqueles tempos.


Lá fomos os dois então para o café. O jogo parecia ser muito importante. Mas eu nada entendia daquilo. Pelas conversas fiquei a saber que era entre a melhor equipa portuguesa e uns estrangeiros de nome impossivel de pronunciar por completo, mas que começava por PCP, ou PSD nem fixei bem. Pelo que ouvia falar os estrangeiros eram todos filhos de uma senhora chamada Puta. Nomes esquisitos os estrangeiros não é!!!...


Ali fiquei duas horas a olhar para o preto e branco da televisão e sem ver um único golo , que era a única coisa que eu percebia de futebol naqueles tempos. Quando a bola passava aquele risco era golo. ( hoje em dia , por vezes já não é assim).


Ao fim de duas horas começaram as duas equipas a marcar "penalties" , que eu também sabia o que eram , mas tinha ideia de porque eram.


Depois de alguns penalties marcados , e finalmente alguns golos para eu gritar, um senhor português, falhou o penaltie. Chamava-se Veloso, mas segundo alguns senhores presentes no café também era filho da tal senhora que era mãe dos outros todos.


O jogo acabou . A melhor equipa portuguesa tinha perdido com os estrangeiros filhos da... da tal senhora.


Eu chorei. Não sabia porquê... mas chorava.


Entretanto fui crescendo. Descobri que a melhor equipa portuguesa se chamava Sport Lisboa e Benfica. Descobri que vestiam de vermelho , apesar de não parecer nas televisões a preto e branco. Descobri que naquele jogo tinham perdido a final da Taça dos Campeões Europeus.


Mais tarde viria a ver com mais atenção nova final . Desta vez com o Milan. Mas um gajo chamado Rickaard (filho também da tal senhora) fez-me chorar outra vez.


E pensava porque raio chorava. Não sabia responder. Talvez nem hoje saiba. E depois dessa vez muitas vezes chorei pelo Benfica. E muitas das vezes foi chorar de alegria , como por exemplo nos 4-4 em Leverkussen.


Mas a última vez que chorei não foi de alegria. Longe disso . Chorei no dia em que morreu MIKI FÈHER. Chorei como nunca tinha chorado em nenhum momento da minha vida.


Mas não chorei por ter visto morrer em directo um rapaz da minha idade. Nem chorei por termos perdido um jogador importante, ou indispensável. Não. Chorei por termos perdido um de nós. Chorei por ver morrer alguém com a camisola encarnada no corpo. Chorei por ver alguém morrer em campo correndo por todos nós.


Hoje em dia fala-se muito em Ser Benfiquista. Eu sei porque sou benfiquista . Sou do Benfica pelo penaltie falhado pelo Veloso. Sou do Benfica pelos golos do Magnusson e do Rui Águas, pelos voos do Preud'Homme e pelos cortes do Mozer.


Sou do Benfica pela classe do Valdo, pelos pormenores do Thern, pela raça do Simão. Sou do Benfica pela mestria do Rui Costa, pela finesse do Ricardo Gomes e pelos centros do Paneira.


Sou do Benfica porque na verdade... não fazia sentido ser de outra maneira.

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